Cancelamento de Sense8 tira máscara da Netflix
Sim. Eu sei que a Netflix é uma empresa capitalista, que visa o lucro e que não faz caridade. Aliás, essas foram algumas justificativas que pipocaram nas redes sociais nos últimos dias como justificativas para o cancelamento de Sense8 e como forma de desmerecer a indignação dos fãs.
No entanto, é preciso lembrar que os clientes não precisam de caridade da empresa. Eles pagam suas assinaturas para assistirem os seus programas preferidos. Por isso, ao cancelar uma série sem fechamento, a Netflix deixa a sua máscara cair. E nenhuma equipe de social media será capaz de reverter o estrago.
A importância do cliente para a empresa
Quem muito lê sobre empreendedorismo ou escreve sobre administração de empresas e negócios, sabe “decor e salteado” a importância do cliente para uma empresa. Mas essa importância não deve ficar apenas no discurso, como no posicionamento da empresa nas redes sociais.
É preciso que essa cultura esteja no DNA da organização. E um artigo de Alessandra Assad, publicado no portal Administradores, relata bem isso:
As empresas ditas voltadas para o cliente são aquelas que têm o foco no cliente, na arte de conquistar e, acima de tudo, fidelizar, porque de nada adianta o cliente comprar de você uma única vez. Mas para isso, precisamos aprender a colocar em prática uma regra de ouro: “a forma mais rápida de conquistar aquilo que você deseja é ajudando outras pessoas a conquistar o que elas desejam”. E na prática funciona mesmo. Pense no que é importante para o cliente.
Levado esse trecho em consideração, é preciso perguntar: o que o cliente de um serviço de streaming quer? O que é importante para quem paga uma mensalidade para ver seus filmes e séries? O que busca alguém que começa a seguir religiosamente os episódios de um, como dizem os americanos, TV show?
Como assinante de longa data, eu posso responder a pesquisa por mim: eu desejo entretenimento de qualidade, com uma história envolvente.
A comoção entorno do cancelamento de Sense8
Fãs, de fato, podem ser entusiastas. E geralmente são exagerados. Mas é preciso considerar o que levaram as pessoas a assistirem Sense8. Além de ter uma trama muito bem trabalhada e inovadora, a série foi adotada como símbolo de algumas classes da sociedade. Principalmente porque ela rompeu alguns tabus, como apresentar uma mulher transsexual em um relacionamento lésbico, um casal de gays com um relacionamento nada velado, conflitos de família e até corrupção.
A série foi uma justa representação da diversidade humana: sexo, religião, moral, família e drogas. Todos os principais assuntos que ainda incomodam algumas sociedades. E, talvez, exatamente por isso ela provocou tanta comoção em alguns segmentos.
A máscara que a Netflix deixou cair
O excelente trabalho da equipe de mídias sociais da empresa criou uma imagem muito positiva da companhia. Uma empresa próxima do público, acessível, amiga e muitas das vezes como uma namorada. Afinal, vira e mexe se brinca que os solteiros têm um relacionamento série com a Netflix aos finais de semana.
No entanto, essa empresa nada mais é do que uma empresa qualquer. Como já dito, ela visa o lucro — exatamente como deve ser. Mas, apesar de querer se diferenciar das demais produtoras de conteúdo — como a CBS, a ABC, a Fox e a NBC, entre diversas outras —, ao cancelar suas séries sem um final para os espectadores, a Netflix deixou cair essa máscara de “diferentona” e se mostrou exatamente igual as demais empresas do segmento de entretenimento.
Agora, não adianta mais mensagenzinhas fofas, gifs animados divertidos ou indiretas aos políticos brasileiros em aeroportos. A Netflix, com o cancelamento de Sense8 e de outras séries sem um desfecho, mostrou que o seu cliente não importa. Como as demais, é apenas o ROI que importa. Resta saber se o cliente continuará não importando se os cancelamentos aumentarem. Afinal, como esta mesma empresa afirmou ao divulgar uma de suas séries:
E a sua empresa, realmente se importa com os clientes ou apenas faz de conta nas mídias sociais?